
A relação entre pais e filhos: o peso das expectativas e o caminho para a autonomia emocional
Você já parou para pensar sobre o quanto sua história familiar ainda influencia suas decisões hoje?
Filiação significa estar ligado à origem de uma pessoa, como a relação entre pais e filhos. Não necessariamente diz respeito apenas ao vínculo consanguíneo inclui também a adoção. Neste sentido, a filiação tem a ver com pertencimento e se expande ao longo da vida para outros vínculos significativos na nossa existência. Vale a pena lembrar das pessoas significativas que fizeram parte da sua história de vida.
A importância dos vínculos afetivos e o olhar da Psicoterapia
Na Psicoterapia, refletir sobre esses vínculos nos ajuda a compreender como impactaram a identidade de uma pessoa, sua maneira de se relacionar afetivamente com o outro e sua visão de mundo.
Se sobrevivemos às nossas dores no passado, significa que, de alguma maneira, fomos cuidados e amados, nem sempre pelas pessoas que desejávamos, talvez nem tanto como gostaríamos ou precisaríamos, mas ainda assim experimentamos o afeto.
Relações familiares em transformação ao longo da vida
É importante compreender que esses vínculos vão se transformando ao longo de nossa existência. As relações mudam com o tempo. Podíamos ter mais facilidade com alguém em uma fase da vida e, em outra, não.
Outro ponto de reflexão diz respeito à influência das desigualdades ou dos privilégios sociais em nossa vivência. Preconceito racial, dificuldades financeiras, desigualdade de gênero e histórias de violência interferem diretamente em nossas relações, assim como o excesso de proteção e privilégios.
A construção da identidade a partir de crenças sociais e familiares
Nossa história, vínculos, cultura e o momento histórico que vivemos constroem nossa identidade, visão de mundo, crenças e valores.
Mesmo que a individualidade tenha destaque, os aspectos relacionais e sociais são fundamentais na construção de nossas ideias sobre amor, pertencimento e autonomia.
Essas crenças antecedem ao nosso nascimento. Já existiam expectativas: quem seríamos, nossa função na família, os valores que sustentaríamos, o que deveríamos fazer para sermos amados, o futuro a construir.
Padrões familiares internalizados e seus impactos
No contexto familiar, padrões internalizados referem-se às crenças e expectativas transmitidas de geração em geração, que moldam como as pessoas se veem, se relacionam e tomam decisões. Mas nem sempre conseguimos ou queremos corresponder a essas expectativas.
Discernimento: o que vale continuar e o que precisa ser revisto?
Alguns desses padrões herdados estão em nossas atitudes e crenças. Cabe a nós discernir o que desejamos reproduzir ou não.
É preciso cuidado para não confundir lealdade familiar com dependência emocional ou anulação identitária.
Lealdade familiar, dependência emocional e anulação identitária
Lealdade familiar implica compromisso, solidariedade e amor, fortalecendo vínculos e oferecendo apoio emocional. Mas quando desequilibrada, pode exigir mais sacrifícios do que é possível oferecer.
Dependência emocional surge em relações que exigem validação constante e controle, impedindo a autonomia por medo da rejeição.
Anulação identitária acontece quando a pessoa perde seu poder de decisão, nega sentimentos e desejos para agradar ao outro ou se encaixar.
A busca por aprovação e a construção da autoestima
Todos nós buscamos aprovação e reconhecimento. Para alguns, isso é parte natural da jornada; para outros, a falta dessa aprovação pode ser devastadora.
Se sentir merecedor de amor requer pertencimento e aceitação e nem sempre isso é possível.
Em que condições sociais e familiares você recebeu amor?
Como você desenvolveu nas suas relações a sensação de pertencimento?
Que valores são importantes para sua vida?
Que crenças herdadas você reproduz?
Identidade: um olhar que vai além do individual
Refletir sobre a identidade é um exercício constante de ampliar o olhar para além do eu. É incluir o contexto relacional e social.
“Pertencimento não é apenas estar em um lugar, mas sentir que ele é uma extensão de quem somos.”
— Brené Brown
Pertencimento: entre laços sanguíneos e vínculos de cuidado
Essa frase nos convida a refletir sobre nossa necessidade de pertencimento.
Esse desejo é legítimo, mas até que ponto estamos dispostos a ir para pertencer?
Muitas vezes, o pertencimento é legitimado por laços de sangue. Mas família também é quem cuida, ama e com quem podemos contar.
Lealdade, amor e vínculos conscientes
Nossa lealdade reafirma vínculos, mas quando se transforma em lealdade incondicional sem crítica, pode gerar dependência emocional.
Relacionamentos que se baseiam em “só te amo se você fizer isso” precisam ser repensados.
Pertencer não é se anular
Pertencer e se sentir amado não implica realizar o projeto do outro ou deixar de ser quem se é.
Como é pertencer mesmo com opiniões diferentes? Como é decepcionar quem se ama e continuar pertencendo? Esse medo aparece muito na relação entre pais e filhos, e muitas histórias falam da dor de decepcionar quem mais se ama.
A liberdade de viver a própria vida
Às vezes, quem nos ama idealizou um caminho que não queremos seguir e está tudo bem.
O mais importante é viver de acordo com seus valores e sua ética, ainda que isso desagrade.
Não querer viver o ideal do outro não é falta de amor.
Sim, você não é o que seus pais sonharam, e daí?
O que nos une às pessoas que amamos vai além dessas diferenças. O amor verdadeiro precisa ter espaço para divergência.
Então pare de tentar ser o que não quer e seja a pessoa que deseja!
Apoio terapêutico e autonomia emocional
Quando estamos diante de impasses, o diálogo é o melhor caminho. Às vezes, é preciso o apoio de uma terapeuta.
Uma boa terapia pode ajudar nesse processo de descoberta e fortalecimento da autonomia emocional.
Conte comigo!