
Desafios da Equidade: A Interseccionalidade das Identidades Femininas
O Dia 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, é uma data de luta por equidade de honrar aquelas que vieram antes de nós, lutando por nossos direitos.
Embora março nos lembre da importância dessa pauta, a busca por equidade deve ser um compromisso constante, presente em todos os dias do ano.
No entanto, a escolha desse dia está marcada por um trágico episódio: em 1908, nos Estados Unidos, 130 trabalhadoras de uma tecelagem foram trancadas dentro da fábrica enquanto estavam em greve por melhores condições de trabalho e equidade salarial. Um incêndio no local tirou a vida de todas elas.
Desde então, muitas conquistas foram alcançadas, como o direito à educação, ao voto e a maior liberdade sexual. No entanto, a equidade salarial ainda não é uma realidade. Apesar de avanços na legislação e políticas públicas, o Brasil continua sendo um país marcado pela desigualdade de gênero.
De acordo com o IBGE (2021), mulheres brancas no Brasil ganham, em média, 77,7% do salário recebido pelos homens. A disparidade é ainda maior para mulheres negras, que recebem cerca de 65,8% do salário dos homens brancos, mesmo exercendo a mesma função e carga de trabalho. Embora a Constituição Federal de 1988 e a Lei 9.799/1999 garantam a equidade salarial entre homens e mulheres em cargos equivalentes, esse ainda é um desafio significativo.
Esses dados mostram que a luta das mulheres não pode partir da ideia de que todas começam do mesmo ponto. Equidade não significa tratar todas da mesma forma, mas sim reconhecer que há desigualdades estruturais e oferecer condições para que todas tenham as mesmas oportunidades.
Mulheres brancas, ainda que enfrentem desigualdade de gênero, possuem privilégios em relação a mulheres pretas e indígenas, que lidam com camadas adicionais de discriminação.
Por isso, é essencial olhar para essas diferenças e compreender que a luta pelos direitos das mulheres deve considerar todas as identidades que as atravessam.
O racismo também se faz presente nessa questão e exige de nós uma responsabilidade maior enquanto sociedade. Além disso, outros desafios ainda marcam a trajetória das mulheres em busca de equidade, como o etarismo, as violências contra mulheres e a população LGBTQIAP+, as dificuldades financeiras no dia a dia e as barreiras enfrentadas por aquelas com necessidades especiais em um país que ainda não é pensado para a diversidade.
O etarismo é outra barreiras: Mulheres mais velhas enfrentam dificuldades para se manterem no mercado de trabalho ou se recolocarem profissionalmente, sendo erroneamente consideradas menos produtivas. Além disso, há uma cobrança pela eterna juventude. O Brasil está entre os países com maior número de cirurgias plásticas e procedimentos dermatológicos que prometem rejuvenescimento, enquanto, nos consultórios, cada vez mais mulheres relatam baixa autoestima, depressão, insegurança, medo do abandono e da solidão.
Outro desafio importante diz respeito à menopausa. Em uma cultura que historicamente associa a mulher à reprodução, entrar no climatério e na menopausa ainda é visto quase como uma sentença de invisibilidade. Além das mudanças físicas, muitas mulheres precisam se reinventar em um novo lugar na sociedade, lidando com estigmas e a falta de acolhimento.
Lutar contra o etarismo exige uma transformação cultural e social que promova a inclusão e resgate o respeito e a valorização da experiência de vida dessas mulheres.
A violência contra mulheres, incluindo aquelas da comunidade LGBTQIAP+, manifesta-se de diversas formas, como abuso, discriminação e exclusão social. Entre essas violências, estão a física, psicológica, sexual, financeira/patrimonial, organizacional/institucional e obstétrica, entre outras. O preconceito contra mulheres LGBTQIAP+ as expõe à intolerância e discriminação por sua identidade de gênero. Mulheres trans, além dessas violências, enfrentam ainda mais barreiras no acesso a serviços de saúde e proteção jurídica.
A violência obstétrica afeta principalmente mulheres em situação de vulnerabilidade social e se manifesta por abusos e negligências no atendimento médico. Profissionais de saúde, baseados em estereótipos raciais, muitas vezes minimizam ou ignoram a dor dessas mulheres, submetendo-as a maus-tratos, humilhações e procedimentos invasivos sem consentimento. Mulheres negras, em especial, enfrentam o preconceito da falsa crença de que suportam mais dor, tornando-se ainda mais expostas a essa forma de violência.
As necessidades especiais se somam à desigualdade de gênero, e para uma mulher negra, o desafio é ainda maior. Limitações físicas ou cognitivas criam barreiras sociais, dificultam a acessibilidade em espaços públicos e limitam oportunidades de trabalho, educação e socialização.
Esses desafios nos conscientizam da nossa responsabilidade como sociedade em rever nossos preconceitos, aprofundar nossos estudos sobre letramento racial, refletir sobre a inclusão e diversidade.
As interseccionalidades sociais, como raça, gênero, orientação sexual, classe social, idade e necessidades especiais, nos alertam para a complexidade de ser mulher. Cada uma dessas camadas nos coloca frente a nossos valores e, muitas vezes, nossos preconceitos.
Devemos, todos, lutar e apoiar as lutas de todas as identidades femininas: brancas, negras, indígenas, trans, com deficiência, jovens, idosas, profissionais, donas de casa e tantas outras. Só assim, caminharemos para um mundo mais justo e igualitário.
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