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Eu não sou um guarda-chuva

Sou testemunha oculta desta história que foi compartilhada comigo pelo José (nome fictício), homem negro que é manobrista num comércio que frequento.

 

Estava de saída e José entregou a chave do meu carro, mas antes contou que uma cliente que havia acabado de estacionar lhe disse: “não te vi, você parece o guarda-chuva, está da mesma cor”, e sorriu achando graça. Com a gentileza de sempre, José se manteve fiel a sua educação, não sorriu, mas manteve a cordialidade.

 

Em seguida, José continua sua narrativa: “ontem fui ao jogo do Corinthians com meu filho e estava com um saco de amendoim na mão. Fui tão revistado que quase fiquei sem ele, mas deixaram um cara entrar no estádio com uma cabeça de porco na mão. Como pode?”.  Até então não sabíamos que a cabeça de porco havia sido arremessada para o campo.

 

José expressava a sua indignação diante de episódios de racismo. O racismo recreativo da cliente, que é esse jeito aparentemente inocente de fazer piada sem graça sobre a cor da pessoa; e o da revista no estádio, confirmando que homens negros são mais visados do que os brancos pelas autoridades policiais.

 

Essa é a rotina de muitas pessoas que enfrentam a desigualdade social e o racismo. Cabe aqui reafirmar nossa responsabilidade enquanto pessoas brancas de nos educarmos em relação ao letramento racial. No Dia da Consciência Negra que possamos juntos criar relações pessoais mais respeitosas e livres de qualquer preconceito, seja este racial, de gênero, sexo, religião, econômico e qualquer outro que nos distancia daquilo que realmente somos, “pessoas”.

 

Feliz Dia da Consciência Negra!

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