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Encontros e Despedidas – Uma história sobre luto

Numa dessas tardes ensolaradas de Setembro vi pela primeira vez nossa protagonista.

Vou chamá-la de Rosa por ser este o mês da primavera.

Indicada por sua terapeuta para o Workshop Relacionamentos que Curam, Rosa começou a contar sua história em nossa primeira entrevista individual. É importante saber que ela também fazia tratamento com um psiquiatra.

Ela me falou que convivia a cerca de um ano com uma forte depressão depois da morte de sua querida irmã.

Saiu de seu emprego, afastou-se dos amigos e mesmo com sua família pouco interagia. O casamento começava a ser afetado por tanta tristeza e seus 3 filhos sentiam muita falta da mãe apesar da curta distância até seu quarto.

A história da vida de Rosa é intensa e confesso que ambas nos emocionamos com os fatos que ela me narrava.

“Eu preciso tomar minha vida de volta” – me dizia Rosa com os olhos cheios de lágrimas. Fizemos duas entrevistas individuais antes do Workshop, dessas conversas pudemos nomear o problema que ela iria trabalhar: “a trava” . Essa trava representava todo o impedimento que Rosa sentia para assumir as rédeas de sua vida.

Para ela “a trava” estava de certa maneira relacionada com as dificuldades de se entender com sua mãe.

No dia do Workshop Relacionamentos que Curam estávamos num grupo de 9 pessoas, sendo dois homens e sete mulheres.

Quando perguntamos o que ela veio buscar nesse trabalho, respondeu:

– “Ser liberta dos sentimentos ruins que me travam para ter uma mente livre e conseguir prosseguir em minha vida com uma mente saudável”.

Iniciamos um longo e emocionante diálogo entre a representante de Rosa e a representante da “trava”. Rosa via diante de si sua vida passar como um filme, em alguns momentos enxergava a si mesma como trava, em outros via seu pai (também falecido).

Se sentiu a própria trava para seu marido e seus filhos e por um momento deixou vir a tona seu desejo secreto de acabar com sua vida.

Perguntei para Rosa o que a mantinha ligada a vida. Para nossa surpresa ela respondeu que eram seus sobrinhos.

Os diálogos foram intensos até que a representante da trava se aproximou dos representantes de seus sobrinhos e foi então que nossa protagonista enxergou na trava a figura de sua querida irmã.
“Naquele momento eu identifiquei minha irmã”, disse Rosa.

Rosa conseguiu se lembrar que dias antes de sua irmã falecer ela lhe fez prometer que cuidaria de seus filhos caso alguma coisa ruim acontecesse à ela. Nossa protagonista percebeu que neste tempo todo se culpava por não ter conseguido cumprir a promessa que havia feito a sua irmã. Seu cunhado acabou ficando com a guarda dos filhos depois da morte de sua irmã.

Retomamos o diálogo agora entre Rosa e sua irmã, ambas se perdoaram, se abraçaram e choraram. Nossa protagonista se lembrou que não pode chorar a perda da irmã, afinal alguém tinha que ser forte para tomar as providências. Aos poucos ela foi se despedindo da irmã e do peso que sentia até então…

A história de Rosa nos convida a refletir em como lidar com a dor de um luto.

Acho que para cada pessoa existe um jeito próprio. Na história da nossa protagonista, Rosa precisava se despedir da irmã, deixá-la ir e aprender a sentir sua presença espiritual de uma outra maneira.
Particularmente, eu gosto de ter em casa fotos das pessoas que amo e que já se foram.

Gosto de olhar para elas e me lembrar das coisas boas que vivemos juntos. Gosto de fazer uma oração por elas, gosto de pedir ajuda para elas quando me sinto insegura ou preocupada com alguma coisa.
Aprendi com a vida e com Michael White a “dizer olá novamente” para aqueles que já não estão mais ao nosso lado. É um novo jeito de se relacionar, não mais aqui no plano físico, mas num plano espiritual.

Bert Hellinger me ensinou a sentir a presença dos meus pais imaginando-os atrás nas minhas costas e quando fecho os olhos eu realmente me sinto amparada. Mas o que aconteceu com Rosa? Um dia desses de Dezembro recebi notícias dela.

Ela escreveu que mudou o seu visual: um novo e moderno corte de cabelo!

“… Comecei a olhar um pouco para mim e venho me sentindo muito bem com essa decisão que parecia ser tão difícil e hoje me faz tão bem!”

Sente que o casamento está melhorando, voltou a trabalhar num novo emprego e continua com sua terapia.

“… Me sinto feliz por poder começar outro ciclo podendo escrever uma folha em branco sem mácula e nem rabisco do passado é meio assustador mas é bom poder escrever linhas desta folha sem mágoa nem tristeza. Quero poder viver com mais amor e buscar a alegria para perto de mim e de minha família…”

Assim como os dias passam a história de Rosa continua, só que agora ela é a autora de sua vida!

Você acha que tudo se resolveu ?

Não, lembre-se que Rosa tomou algumas decisões, ela quis melhorar e decidiu mudar, continuou em sua terapia, continuou a escrever sua história!

Desejo que outras Rosas e alguns Cravos possam ler esta partilha e se inspirem a trazer coisas boas para suas vidas.

Quanto a mim, ainda hoje posso sentir o perfume de Rosa, cheiro de flor que desabrocha para vida numa linda primavera.

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